Grupos: considera-se alternativa pedagógica importante para educação escolar inclusiva pretendendo assim incluir, não integrar. Nas metas educativas trabalhar sozinho também é importante, sendo assim a palavra alternativa se destaca não implicando somente que os alunos estejam agrupados.
Partindo das observações e entrevistas, realizadas nas pesquisas salienta-se que a disposição das pessoas em pequenos grupos foi um fator facilitador par a integração dos alunos, a aproximação física obriga as pessoas a se olharem, a se tocarem e a trocarem informações. E por isto, ao longo deste capítulo vai-se defender esta alternativa de se fazer com que o aluno com NEE se relacione com seus colegas na sala de aula, seja sentado junto com outras crianças, seja em atividades de envolvimento, na aula de Educação física ou no recreio, brincando com os demais.
A importância do grupo
Segundo Viñao frago (1998), a organização de atividade em pequenos grupos acontece desde fins do século XIX e início do século XX. E por isto, na pesquisa, os grupos aconteceram tanto em contexto de ensino mais tradicionais, quanto em modelos mais progressistas. A partir de convicções próprias e de fundamentos teóricos em Vygotski, tem-se embasado a pertinência da formação em grupos. Uma professora citou que para que se possa aprender, esta troca é fundamental, principalmente para o aluno com NEE.
Trabalhar em grupo ajuda muito, pois “através da troca de idéias evolui as aprendizagens, na construção da escrita, pois, na medida em que interagem, observam que os outros colegas já estão numa outra hipótese e assim normalmente avançam, porque elas se desacomodam”, disse uma entrevistada.
Bruner (2001) “não é apenas a aquisição da linguagem que faz com que as coisas sejam assim, é o ‘toma lá, da cá’, da conversação que torna a colaboração possível” (p. 94), e a colaboração aproxima bastante este estudo, e para o aluno com NEE, a colaboração parece ser mais fundamental, já que a capacitação necessária do sujeito ativo é adquirida na colaboração.
Ao referir a importância do grupo também é citado pelas docentes que o grupo promove um crescimento geral de todos a partir da socialização que se estabelece entre os alunos.
A criatividade das crianças na interação
Quando se ressalta a educação escolar inclusiva, a idéia é que todos posam participar e se sentir no processo educativo, independente de suas diferenças. No entanto, será que as crianças vão conseguir estabelecer uma interação, mesmo em grupo de trabalho, diante da diversidade em que a educação escolar inclusiva se estabelece?
Uma professora se posicionou dizendo: “Apesar da dificuldade que a criança com NEE apresenta, as crianças consideradas normais conseguem, pela sua criatividade, interagir com ela nos grupos, encontrando maneiras de se relacionar”. É possível dizer que a diversidade em educação escolar inclusiva enriquece, proporciona desenvolvimento, contato que ocorra ação e relação entre as pessoas envolvidas, para esta relação, os grupos se configuram como estratégias importantes.
As crianças e suas intervenções freqüentes
O reconhecimento da importância dos grupos deve ser acompanhado por um esclarecimento, os componentes do grupo realizam intervenções uns com os outros, de maneira que, no grupo, se desenvolva uma situação à parte da que acontece na sala de aula como um todo. Uma destas intervenções ocorre para a resolução de problemas, para que se resolva uma determinada atividade solicitada pela professora, os colegas considerados normais ajudam na tarefa do aluno com NEE. Percebe-se que, além desta ajuda prestada, solucionar problemas motiva os alunos a trocarem idéias, principalmente sobre o assunto em questão, outra intervenção freqüente que estabelecem no grupo especial como fazer a tarefa, mas o auxílio nem sempre é espontâneo por parte das crianças normais, muitas vezes depende que a professora faça intervenções para que os componentes do grupo auxiliem ao aluno com NEE.
Por outro lado, NE sempre o grupo é um momento profícuo para que a criança com NEE possa se desenvolver é necessária atenção do professor para tentar entender como as crianças se envolvem neste momento.
O colega tutor
Dentro da análise sobre o que acontece durante o desenvolvimento dos grupos, faz-se referência também ao “aluno tutor”, que ocorre quando uma criança assume a função de mediação em auxílio aos colegas.
Para Coll e Colomina (1996), o tutorado pode sentir-se mais livre para expressar suas idéias e opiniões, para formular suas dúvidas, para solicitar esclarecimentos. Echeita e Martin (1995) citam que, para o aluno que age como tutor, o avanço cognitivo provém do fato de ter que organizar seu pensamento para dar as instruções apropriadas.
O colega tutor é uma situação de interação direta entre o aluno considerado normal e o aluno com NEE, independente do tipo de tarefa ou da distribuição das pessoas na sala de aula. Durante a pesquisa, notou-se que ser tutor é causal, não acontece de uma criança sempre ser a tutora, mas dependendo do momento, ela represente ser.
Algo interessante se percebeu: com a tutoria de alguns alunos, outros se sentiam motivados a auxiliar, motivar a tutoria, portanto, parece provocar níveis de desenvolvimento, inclusive, em pessoas que não estão diretamente relacionadas com a situação. Crê-se que os professores poderiam incentivar também os alunos com NEE a tentar exerce a tutoria, em situações diversas, na medida do possível, para que também possam vivenciar esta situação.
Os grupos e a socialização
O trabalho em grupo para a educação escolar inclusiva, considerando que as crianças vão ter interações diversas, é necessário, inclusive, como forma de se entender o seu período de desenvolvimento na Educação Infantil e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Cole e Cole (2003) salientam que o aumento da interação das crianças com seus pares é, ao mesmo tempo, uma causa e um efeito do seu desenvolvimento durante a segunda infância. As novas experiências com os pares desafiam as crianças a dominarem novas habilidades cognitivas e sociais, para que seja assegurada sua maior liberdade de ação.
O professor na sala de aula inclusiva: a organização social das atividades
Ao se falar da importância de grupos e o que se passa nestas situações entre seus participantes, considera-se fundamental também que se analise o tipo de atividades que se pode reger o mesmo e quem determina isto, a atividade dos alunos é condicionada pela atividade do professor, dele vai depender o tipo de forma básica de organização social das atividades escolares – se é individualista, competitiva ou cooperativa, que pode ser estabelecida em aula.
O autor argumenta que o elemento decisivo não é a quantidade de interação e sim a natureza, ou seja, se é uma atividade competitiva, individualista ou cooperativa, segundo Echeita e Martin (1995), a estrutura. Atribuem ao trabalho do professor a responsabilidade como condutor do tipo de atividade, é o motivador, tem que fazer o aluno se sentir incluído e importante par o grupo.
Professor: organizador-interventor;observador-facilitador; observador-interventor
A organização em sala da aula, a intervenção que exerce nos grupos deve ser considerado. Na sala sempre tem que ter uma negociação com significado, que o professor construa um contexto com significação para o aluno e que permitem os novos conhecimentos tenham sentido.
O processo de mediação é importante em alunos com NEE. A interação professor-aluno que ocorre de maneira quase espontânea em outros casos, é crucial nestes casos.
Pla (1987) mostra três modelos de intervenção docente:
- Organizador-interventor: o professor só transmite conhecimentos e o aluno limita-se as instruções. Neste modelo o professor tem que ter noção do conhecimento de seus alunos para partir deles, se não houver, não haverá aprendizado.
- Observador-facilitador: permite que os alunos tenham atividade livre e decidam o que, como e quando que o aprendizado deve ser realizado. O professor limita-se que o aluno com seus conhecimentos ou informações.
- Este modelo exposto por Pla é considerado mais adequado, é o do observador-interventor e que o professor cria situação par que o aluno consiga construir o conhecimento. A observação permite analisar o nível de partida do aluno e instiga ao professor como e quando intervir. O professor decide como estudar o aluno e o aluno como fazê-lo possibilitando a atividade que preciso para a construção do conhecimento.
Os alunos com NEE têm dificuldades de ter relações sociais. É difícil um aluno que é chamado normal dirigir-se a um aluno dito especial para tentar resolver um problema. Por isso a arquitetura de sala de aula organizada para que os alunos estejam distribuídos em grupos e uma boa oportunidade para que tenha interação entre as pessoas.
Coloca-se a favor o desenvolvimento integral do aluno com NEE na escola não pensar só nas matérias escolares. Quando pensamos trabalhos cooperativos temos que pensar que a criança especial está envolvendo com outras pessoas e com as consideradas normais.
Estratégias de intervenção docente
Mesmo sabendo que não há “receita’ para professores em Educação Escolar Inclusiva, podemos ver algumas estratégias de mediação nos grupos que crianças com NEE participam:
- Combinação de regras de convivência é a primeira mediação que o docente faz para trabalhar em grupo mostra as atitudes que os alunos precisam ter como respeito para os demais componentes independente das atividades desenvolvidas e principalmente a facilidade ou dificuldade de todos os colegas principalmente com aquele com necessidade;
- A mediação pode acontecer durante a realização da tarefa, como perguntar durante o decorrer da tarefa, passar no grupo onde estava o aluno com NEE, relembrar a atividade. Pergunta como está o andamento do trabalho caminhar pela sala oferecendo auxílio.
As intervenções não tinham sucesso desejado. Mostra que os relacionamentos humanos também têm limite.
Os critérios para a constituição dos grupos
Os grupos não são constituídos ao acaso. Tem dinâmica na sala de aula com critérios definidos, que não é somente o professor que define a formação, mas os alunos também. O trabalho em grupo para ter um bom desenvolvimento é importante saber por que está em grupo e como desenvolver este trabalho. Deve acontecer trabalho em grupo para que a criança acostume com a criança dita especial.
Tem quatro outros critérios para constituição dos grupos:
- relacionamento;
- gênero;
- níveis diferentes de aprendizagem;
- níveis semelhantes de aprendizagem.
Compreender que a educação escolar inclusiva não pode somente evidenciar o conhecimento de conteúdos escolares. Essas pessoas não precisam só aprender conteúdos. O viver em grupo tem que ser valorizado como a principal parte do trabalho escolar.
Quando realizados os trabalhos em educação escolar inclusiva é necessário ter claro qual objetivo almejado pelo educador. Favorecer os relacionamentos, fazendo constantemente troca de alunos nos grupos
A disposição dos alunos em sala de aula: a arquitetura da sala de aula
A formação em grupos é elemento central da ação pedagógica da coletividade em educação escolar inclusiva, as atividades não podem ser separadas das atividades dos demais colegas ou da ação do professor. A interação é que constitui seu elemento fundamental. A maneira que uma turma está distribuída pela sala foi um dos fatores influenciadores para que os colegas tenham uma relação com os demais.
Viñao Frago (1998, p.75) diz que “o espaço não é neutro, sempre educa. Sempre educa” e que o espaço numa relação com o tempo é inclusive, o espaço da sala de aula é por si só, um delimitador, que separa pessoas, objetos, separa da vida cotidiana e por isso tem um fim definido e uma cultura própria. Isto não precisa ser considerado negativo. Pode resultar num ambiente destinado para apropriação de uma determinada aprendizagem tanto de matérias escolares quanto de aprendizagem. A maneira como os alunos estão distribuídos pela sala pode ser uma estratégia docente de controle de dominação do professor com os alunos.
Dispostos em fila
Os alunos sentados em filas ficam sem colegas diretamente ao lado. A organização da sala foi individual, não se observa toca entre os alunos. Como haverá interação entre qualquer aluno neste tipo de disposição? Escolano (1998, p. 27-28) fala que a organização das classes indica uma espacialidade disciplinar. Para o autor esta “organização é minuciosamente um continente de poder”.
Sentar-se em fila de gente para o quadro favorece um posicionamento corporal para que copie do quadro como tarefa de sala de aula, não favorece interação e troca entre as pessoas cria-se um copia mecanicamente e movimentos de aprendizagem de matérias escolares.
Não se quer dar “receitas pedagógicas” para a inclusão, para um modelo de educação inclusiva sentar-se em fila não parece uma estratégia para promoção de relações entre pessoas.
Dispostos em semicírculos em torno de quatro classes
Algumas turmas forma semicírculo e somente quatro pessoas no centro virado para o quadro. Um dos componentes destas classes é o aluno com NEE. As atividades eram individuais e não se observam trocas entre os alunos l dos que estavam no centro do semicírculo.
A organização é intencional, na qual as quatro pessoas que estão no centro precisam muito mais dos conteúdos de matérias escolares do que a interação entre os colegas. Pergunta-se como pode vir a influenciar na formação destas quatro personalidades no centro da sala que as crianças estão separadas dos outros colegas expostas perante os colegas. È um modelo excludente, pois expõe o aluno, porém, o professor se vê obrigado a isso devido a cobranças pelo rendimento escolar, que partem da família e até da direção da escola.
Disposição em semicírculo
Na disposição em semicírculo, não aconteceram trocas, só quando da interação da professora. Os alunos fixaram-se em suas tarefas, que neste caso, individual. A influência da professora é fundamental para que os alunos troquem idéias, inclusive com o aluno com NEE. Neste exemplo a classe a professora é colocada lateralmente, a aluno com NEE fica sentado em uma das pontas, o mais perto possível do quadro e da professora. Em outro modelo em semicírculo, a professora faz parte do grupo, sentada junto dos alunos, sendo que o aluno com NEE está ao lado dela. Esta forma favorece as trocas entre os participantes, incluindo a professora, que disse fazer parte do grupo e assim todos se sentem incluídos.
Dispostos em três fileiras
Nesta disposição, as fileiras deixam os alunos virados diretamente para o quadro, a mesa da professora na lateral, o aluno com NEE fica na primeira fileira entre dois colegas. Neste modelo houve momento de troca, ora sim, ora não. Sendo a atividade de copiar do quadro o motivo e quando se envolviam uns com os outros, a atividade era interativa,não de cópia, onde uma das colegas ajudou a menina com NEE.
Disposição em duplas
Com os alunos disposto em duplas, de gente para o quadro, a professora sentada a lateral da turma e o aluno NEE sentado a frente do quadro, ao lado de um colega. Em alguns momentos houve trocas, em outros não. O fato de terma que vencer os conteúdos que eram transmitidos pelo professor, essa “pressa” fez com que os alunos não pudessem estabelecer contato. A interação aconteceu quando a dupla realizou uma atividade unida, com troca de informações.
Disposto em círculo
O grupo forma um círculo, com o aluno NEE ficando perto da professora no fundo da sala. Nesta organização, aconteceram momentos de relações entre os participantes e momentos em que não houve trocas. Os alunos não conversaram porque precisaram escutar uma história, o momento de integração foi quando compartilharam as idéias.
Disposto em dois semicírculos
Os alunos são dispostos em dois semicírculos, um interno e outro externo, a mês da professora virada para os alunos, sendo que o aluno com NEE fica na primeira classe, perto do quadro e da professora. Ocorreram momentos de conversa com qualquer atividade, sem interação grupal. O aluno com NEE estava perto de colegas com quem tinha mais afinidade, o que colaborou para a conversa.
Nota-se que para que a sala de aula seja um ambiente de colaboração e formação humana, a organização do espaço é um detalhe importante, o professor deve ter uma postura aberta para o estabelecimento das relações no grupo, não pensar só no planejamento. Também vemos que a idéia corrente de sentar em círculo é básica para a interação e troca de idéias, não funciona sempre, pois nem sempre ocorreram ou não interações. Muitas vezes as crianças elaboram formas de interagir pela aproximação física.
O local em que senta o aluno considerado especial
Em todos os casos, o aluno com NEE estava à frente de todos, em frente ao quadro e perto da professora. Isso porque há uma atenção especial ao aluno com NEE para que possa aprender melhor, o professor fique mais atento e lhe ensine melhor, também para que não se distraia e não dificulte a aprendizagem dos demais, segundo alguns professores. Porém, a distração tem tanto valor quanto a atenção, ela tem que ser trabalhada para que a criança esteja adaptada a qualquer reação.
Devem-se levar em conta alguns aspectos: o aluno com NEE está ali não somente para aprender conteúdos das disciplinas formais. Estar na frente dificulta a interação e contato, pois não se aprende somente com a professora, os colegas contribuem muito na construção do saber.
Alguns elementos que dificultam a interação entre a s crianças
Observou-se que nem sempre em educação escolar inclusiva há interação entre as crianças. A falta de interação foi decorrência de um modelo que priorizou a atividade pessoal como forma de desenvolvimento individual na aquisição de conhecimento. Também se deve a cultura escolar que valoriza o saber que emana do professor para os alunos, sendo as trocas entre os alunos desnecessárias. Pensam que o auxílio ao colega com NEE atrapalha o aprendizado. A cópia, conforme observado, não favorece as interações, independente da disposição dos alunos em sala, sendo uma prática que não será abandonada tão fácil, pois de acordo com acultura escolar, fixa a aprendizagem e simboliza a professora e sua prática.
Para que haja interações entre a criança com NEE e o grupo, o professor deve provocar situações de envolvimento, é importante criar espaços ver o que inviabiliza esta interação, especialmente quando se considera a sala de aula um ambiente de aprendizagens formais escolares e principalmente de colaboração e formação humana.
textos de Andréia Camargo, Rosemari Silva e Márcia Menger.
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